Carta depois do fim ( a resposta dela )

Eu li a sua carta.


Pequena.
Curta como um suspiro antes de ir embora.

“Você não me perdoou.”
Não, eu não perdoei.
Mas não por vingança.
Não por orgulho.


Talvez por covardia.
Ou medo. Ou ainda por não saber como.

Eu quis perdoar.
Juro que quis.
 Naquela noite em que você me pediu desculpas com os olhos cheios d’água e as mãos trêmulas, eu quis dizer: "Está tudo bem."


E até disse. Com a boca.
Mas minha alma não acompanhou.

É que tem coisas que doem em silêncio.
E a dor muda a gente.
 Não de uma vez. Mas em pequenas fraturas que ninguém vê.
 Eu fui me tornando outra.
Mais fria. Mais distante..
Não por escolha 
mas por defesa.

E sim…
Eu te puni.
Com ausências, com silêncios, com os olhos que já não procuravam os teus.

Me tornei aquilo que eu mais temia:
um espelho da mágoa.

Você me olhava com esperança.


E eu só conseguia ver lembrança.


Você trazia flores.
E eu lembrava da noite em que você esqueceu que eu existia.

E eu tentei de verdade seguir com você.


Mas seguir sem perdão é como andar segurando o próprio fantasma.
A gente se move, mas nunca chega.

Quando você partiu, não chorei.


Não porque não doeu.
Mas porque eu já estava de luto há muito tempo.
Você foi embora hoje 
mas, amor, eu te perdi no dia em que decidi te amar com reservas.

Eu só percebi agora .
O que mata o amor não é o erro.


É a falta de coragem pra amar mesmo depois dele.

E eu falhei.

Você errou, sim.
Mas eu fui covarde.


E te deixei pagar sozinho o preço de algo que dois destruíram você com o gesto,
eu com o silêncio.

Desculpa por ter te amado mal.


Por ter ficado e te feito acreditar que estávamos inteiros.
 Quando, na verdade, eu só queria que você adivinhasse o que nem eu sabia sentir.

Se um dia você voltar 
não para mim,
mas para essa história leva com você uma verdade:
o amor existiu.

E foi grande.
Mas a mágoa foi maior.

Com pesar,
Ela