A identidade e o espelho dos outros.

Outro dia, entre uma taça de vinho branco e uma conversa sincera no sofá da minha amiga, alguém soltou uma frase que ficou reverberando na minha cabeça “Um dos nossos maiores erros é idealizarmos a gente como uma identidade fixa.” Na hora, ri. Pensei, claro que a gente muda. Olha meu histórico de cabelo nos últimos cinco anos! Mas, depois, me dei conta de que não era sobre cortes ou fases era sobre aquela narrativa que a gente constrói sobre quem é. A tal identidade. A assinatura invisível com a qual tentamos garantir um lugar no mundo. Eu me peguei lembrando de quantas vezes disse coisas como “eu sou assim” ou “essa não sou eu” como se eu fosse um documento registrado em cartório, carimbado com autenticidade eterna. Criamos uma versão de nós mesmas que parece uma bio de aplicativo resumida, com filtros, e cheia de intenção. Só que aí vem o mundo os amigos, os exs, os colegas de trabalho e cada um lê você de um jeito completamente diferente. Como se estivessem lendo um livro escrito por outra autora. E aí vem a frustração. Porque a gente espera ser reconhecida como aquilo que acredita ser. Espera que o outro valide nossa própria narrativa. Mas o mundo não lê rótulos ele interpreta vivências. E cada pessoa com quem cruzamos enxerga a gente através das lentes das próprias histórias, dores e desejos. O problema não é criar uma identidade. É se apegar a ela como se fosse inegociável. Como se não pudéssemos simplesmente mudar de ideia, experimentar outro caminho entre outras coisas porque temos que nos rotular sempre, isso é cansativo E aí eu me pergunto
, e se o ponto não for criar uma identidade… mas simplesmente ser?
 Sem manual, sem controle de qualidade, sem moldura dourada. Ser como quem respira. Como quem dança no meio da rua sem coreografia.
 Ser sabendo que alguns vão te ver como luz, outros como sombra. E tudo bem.
 Ser mesmo quando ninguém entende. Mesmo quando ninguém aplaude. Porque, no fundo, talvez nossa essência não esteja em como nos descrevemos… mas em como vivemos. E naquele instante, diante de tudo, isso me dei conta talvez a liberdade não esteja em ser alguém. 
Mas em não precisar ser ninguém. Por uma alma que insiste em ser, não em parecer.

Bianca torriani

7/30/20251 min ler